A pandemia como oportunidade de reforço ético
A I Tertúlia MAE teve lugar na noite de ontem, 27 de Maio, online, e contou com a especial participação de Isabel Jonet e Laurinda Alves. Com a proposta de tema "Reflexões sobre a pandemia: aspectos éticos e sociais", procurou-se perceber em termos éticos e sociais o que de melhor e pior trouxe a pandemia às pessoas e às organizações.
Aos cerca de 30 participantes na tertúlia, organizada pelo MAE – Movimento de Acção Ética como “uma conversa entre amigos”, Isabel Jonet partilhou a sua experiência no terreno, enquanto presidente da Federação dos Bancos Alimentares Portugueses e da Entrajuda. Descreveu que a pandemia de Covid-19 trouxe ao de cimo situações problemáticas já existentes, algumas delas de “transmissão intergeracional de pobreza”, de famílias que têm “falta de resposta estruturada e de oportunidades que lhes permitam sair das categorias em que nascem”, e criou novas pobrezas.
"A esta pobreza que às vezes nem é contada e que deveria sê-lo, a esta pobreza estrutural, juntou-se a pobreza conjuntural, que, neste caso concreto de pandemia, empurrou para uma situação de pobreza verdadeira muitas pessoas que tinham a família completamente organizada, que tinham a esperança e a expectativa de uma vida boa” e que agora “não têm onde exercer a sua profissão” e se deparam com uma “situação de frustração que faz com que seja difícil dar volta à vida”. “Isto priva as pessoas de verdadeira liberdade”, e coloca “vidas em suspenso”.
Isabel Jonet notou que na pandemia se expôs muito a situação médica (de saúde), mas “ninguém falou nos impactos sociais que provocarão alterações até na forma de nos relacionarmos”. Os números que apresentou e que, refere, “não perco oportunidade de dizer” são duros: “Temos em Portugal um milhão de pessoas que vive com menos de 250 euros por mês e dois milhões que vivem com menos de 450 euros por mês. Portanto, temos um quinto da população portuguesa a viver com menos de 450 euros por mês”.
Isabel Jonet e Laurinda Alves, jornalista, escritora e professora de Comunicação, Liderança e Ética, apontam uma solução de esperança, assente na entreajuda e na solidariedade, na mobilização, que leve as pessoas a saírem de si mesmas e a irem ao encontro de quem necessita. “Precisamos de criar laços, de criar relação”, disse Laurinda Alves.
Isabel Jonet referiu que, como “pessoa de esperança e de fé”, acredita que “todas estas ocorrências e estas crises são oportunidades”.
Laurinda Alves deu o seu próprio testemunho sobre a forma “sensível, calorosa, ética, humana, próxima” como tinha sido atendida no momento da toma da vacina contra a covid-19. Partilhou também uma realidade de acolhimento e apoio às pessoas de violência doméstica que recentemente visitara, o Espaço Júlia, em Lisboa. Referiu ambas as situações como lugares e exemplos em que se impõe “a vontade de ajudar”, por vezes “em situações pavorosas”, e o propósito de “fazer o bem pelo bem”. Esta bondade, apontou, deveria alargar-se à sociedade “como um imperativo ético”, e neste sentido, a pandemia pode ser vista como uma “oportunidade de reforço ético”.
A jornalista disse ser importante “o afastamento de dois extremos: de um lado o do indiferentismo, do outro o do ódio a tudo e a todos”, e lembrou que “o exemplo individual é muito importante, não é uma questão de crença religiosa, é uma questão ética humana”. Na sua reflexão interpelou a cada pessoa se pergunte a si mesma “O que posso eu fazer, à minha escala?”, para que, cada um por si mas a pensar no todo gere uma viralização no sentido positivo, gere “o vírus da humanidade, generosidade, do resgate humano”.
Proximamente o MAE proporá uma reflexão sobre a Demografia
O anúncio foi feito no início na I Tertúlia MAE: para breve, em data e com convidados a anunciar, o MAE proporá uma reflexão sobre Demografia, um outro tema que também preocupa o movimento cívico.
28 de Maio de 2021