“Não há ética sem os pés bem assentes na terra”
(Pe. José Manuel Pereira de Almeida)
Com casa cheia, a apresentação de «Temas de Ética Médica – Reflexões e Desafios», um livro editado pela Principia Editora, obra coordenada pelos quatro co-fundadores de MAE – Movimento Acção Ética, António Bagão Félix, Paulo Otero, Pedro Afonso e Victor Gil, teve lugar ao final da tarde 16 de Novembro na Livraria da UCP - Universidade Católica Portuguesa.
A apresentação esteve a cargo do vice-reitor da instituição de ensino, padre José Manuel Pereira de Almeida, que referiu que a obra “é bem a prova de que a ética tem sempre aplicação. Melhor: que fora das circunstâncias concretas não há lugar para a reflexão ética. Não há ética nas nuvens, sem os pés bem assentes na terra”.
O padre José Manuel Pereira de Almeida sublinhou a afirmação dos coordenadores quando afirmam que este é “um livro contra a corrente dominante, que é sempre, como sabemos, a corrente daqueles que nos dominam” e uma obra, na linha do pensamento do Papa Francisco, que aponta a para “uma ética dos discernimento, usando a expressão a expressão que Tony Mifsud, sj (1950-2022), recentemente falecido, utiliza para título da sua obra maior”.
“Esta obra corresponde a uma ajuda à compreensão de diversas situações concretas em que a dimensão ética está em jogo. Não para que façamos como dizem os seus autores; mas para que, compreendendo melhor o que está em jogo, possamos decidir livre e responsavelmente o que, nas circunstâncias concretas em que nos encontramos, percebemos ser o bem concretamente possível para cada um de nós”, disse o vice-reitor da UCP ao percorrer os principais temas e reflexões dos capítulos assinados, a maioria a título individual e alguns em co-autoria, por André Azevedo Alves, Isabel Almeida e Brito, Filipe Almeida, Filipe d’Avillez, José Carlos Lima, João César das Neves, José Manuel Moreira, Manuel Monteiro, Margarida Góis Moreira, Margarida Machado Gil, Margarida Mateus, Maria da Glória Garcia, Maria do Céu Patrão Neves, Marta Lince Faria, Paulo Otero, Pedro Afonso e Pedro Vaz Patto.
O padre José Manuel Ferreira de Almeida considera que “para avaliar um bem que é possível realizar ou um mal que é possível evitar, é preciso saber em que direcção se quer ir e ser-se suficientemente hábil no avaliar o que melhor nos ajuda a prosseguir nessa direcção. A pessoa prudente não é só inteligente. A prudência perspicaz pressupõe uma capacidade de ler dentro as coisas (inteligência), mas em função de um sentido para a vida, em função de uma moralidade viva, de uma bondade pessoal vivida através de escolhas concretas”.
A APRESENTAÇÃO DO PADRE DOUTOR JOSÉ MANUEL PEREIRA DE ALMEIDA NA ÍNTEGRA
Coordenadores falam de “livro-semente” escrito como um "exercício de liberdade"
Na impossibilidade de estar presente na sessão de apresentação, António Bagão Félix enviou uma mensagem para ser lida no momento da apresentação: “No princípio deste livro está o Movimento Acção Ética – Vida, Humanismo e Ciência. Por outras palavras: está uma genuína expressão de desassossego cívico e de responsabilidade axiológica. Como está dito na sua carta de princípios, este Movimento surgiu não por contingências ocasionais, efémeras, avulsas, mas por imperativo categórico de consciência, livre e independente de poderes, credos ou facções”.
Para Bagão Félix, numa reflexão secundada pelos outros co-coordenadores, numa sociedade em que domina “o frenesim do actualismo” e “as minudências descartáveis às questões essenciais”, em que “tudo se concentra no dia-seguinte” e em que se vive o “(falso) futuro no instante, na pressa, na fugacidade”, num tempo marcado pela “excitação competitiva, sem rei nem roque” onde “não há lugar à ética dos cuidados”, o livro «Temas de Ética Médica – Reflexões e Desafios» é um livro com um propósito especial: “Trata-se de um livro-semente. Um livro que queremos faça germinar, sobretudo nas gerações jovens, dessossegos virtuosos em vez de indiferentismos viciosos. Um livro que nos ajude a germinar perguntas e a colher respostas. Um livro para sempre e não um livro de momento, tão mais significativo quando vivemos tempos de presentismo obsessivo e descartável”.
O editor Henrique Mota e os quatro coordenadores agradeceram o trabalho dos autores convidados, o apoio da Fundação a Junção do Bem à publicação da obra e à Universidade Católica Portuguesa pelo acolhimento para a sessão de apresentação.
Pedro Afonso referiu a satisfação comum por o MAE ver publicada uma obra pensada e escrita "como um exercício de liberdade, por todos os seus intervenientes, o que nos tempos que correm não é fácil, porque somos constantemente sequestrados pela cultura do politicamente correto e do cancelamento” e anunciou que o Movimento Acção Ética, como movimento civil, pretende continuar “a não ter medo de dar testemunho, mesmo sendo contra a corrente dominante”, manter “a firmeza das convicções" e "continuar o caminho iniciado por esta obra que para muitos pode ser considerada politicamente incorrecta”.
Lisboa, 17 de Novembro de 2022
(LRS)